terça-feira, 14 de abril de 2009
Estrada interminável
O que ficou? Para onde irá afinal?
Cegos de bengala.
Passo a passo no barro esburacado
O calçado perdeu-se
Há tempos
Há vidas atrás
Com os olhos abertos, opostos
Vêem menos do que a escuridão
Dono do seu destino aziago
Esses Tirésias nada sabem
Se caídos, rastejam
De pé, desfalecem
Progênitos do orgulho
Rejeitados da vaidade
Anjos decaídos
Filhos de lugar nenhum
segunda-feira, 13 de abril de 2009
AO SOFREDOR
Creio que apresentar-vos no auge da loucura seria no mínino inimagináveis escritos de um pobre insano, malvisto pelos que o cercam, ignorado pelos gênios deficientes d’alma, Ingratos fruto de algo maior, pois em cada um o princípio se fez germinar. Por agora, cultivam as mentes brilhantes. Tolos e cegos, filhos pródigos de um mal oculto, prole do preconceito. Dissipam conhecimentos fechados, retrógrados vazios de luz. Enxergam um túnel e suas propriedades, mas são ausentes do ar que lhes é vital a sabedoria.
Jogado aqui: um perdido que esta a vagar, sem a benção dos gênios, sem a mão dos seguidores do mundo, fruto da minoria insana que paira numa terra de intolerância. Nu a cantar, a saudar as estrelas, vindo dos seios da mãe verde, irmão daquilo que se chamava vida, o perdido que percorre o mundo com o ar a cortar-lhe a face e a misturar-se com as lágrimas gélidas na pele em chamas. O pé que sentia a terra, o destino a frente, à vista, numa busca interminável pela felicidade profana e verdadeira.
Ainda que os mundos se desencontrassem traria comigo o nada que habita o homem insano, vagaria ao lado dos deficientes, gênios sem nada saber. Traria na carne o sopro de respiração da última noite de ardor, quando não se via o tempo passar. Em peito aberto repleto de vácuo, com o coração a bater longe de sua morada. Traria comigo a sorte dos famigerados, exagerados do mundo, sobrevivendo de lembranças que um cérebro desesperado estaria a criar para o alimento essencial.
Por caminhar sentiria os pés sobre a terra onde a trilha se perderia numa vista cega de vontade. E ainda que o perdido gritasse mais alto, calaria multidões num olhar desaforado, dilacerado por falsos sorrisos. Ainda que a pele descolasse do corpo na tentativa de reconforto estaria por caminhar, uma mente, um destino. Entregar-te-ia mais que um coração em rios vermelhos, entregaria toda uma carne visceral, cada parte que constasse um sopro de vida, cada pedaço de amor.
domingo, 12 de abril de 2009
Diferenças irreconciliáveis
Hoje a noite da janela ouvi um anjo chorar, um incompreendido com as asas machucadas. Julguei-o como o humano que sou, parte por ser igual, parte por diferir. Suas asas machucadas seu sorriso desfeito desconhecia tal perfeição. Não trazia consigo a raiva que imperava em mim. Era um anjo, amava seu igual, amava seu diferente. Não era perfeito e não julgava ser melhor do que a mim. Os seus olhos emanavam a desesperança, não perdera a fé em seu Pai, perdera em si mesmo ao questionar o porquê de ser assim. Ao cuidar de tal sublime criatura filha de meu Pai entendi, que mesmo podre com as mão sujas, que mesmo que apedrejados e apontados eu faria a diferença naquele momento. E o amaria, não por ser um anjo e sim por fazer parte de mim.
GRANDE LEONI
Todo mundo sabe de alguma coisa que eu não sei
De um filme que eu não vi
De uma aula que eu faltei
Por mais que eu tente eu nunca chego no horário
Eu perco tudo que eu ponho no armário
Tudo atrapalha o que eu faço
Mas pros outros parece tão fácil
A fila que eu escolho vai sempre andar mais devagar
O troco acaba bem na hora em que eu vou pagar
Se eu me distraio um único instante, pode apostar que
eu perco o mais importante
Tudo atrapalha o que eu faço
Mas pros outros parece tão fácil
Os vizinhos devem rir por trás do jornal
Eu desconfio de um complô
O maior que já se armou
Uma conspiração internacional
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Inconscientemente o calor toma conta de você, te envolve como cordas que te abraçam e apertam suavemente, você já não pode mais fugir, pois ele desobedeceu a sua vontade, o fogo outrora sereno já arde intensamente. Ele começa de dentro e explode através de seus poros, o suor dele já não refresca.
A malagueta se apossa dos seus lábios que começam a arder, pinicando, chegando a doer.
Aos poucos a mente se curva a vontade do corpo, a cabeça já não funciona, o coração já não mais bate, ele pula, corre e até voa, indo para a garganta. Suas mãos descobrem o caminho e o percorre, sua visão fica embaçada e se apaga com o fechar dos olhos. Você não pode, sabe que não pode, mas do que adianta saber se não dá pra resistir. Talvez por ser proibido e a noção de não poder é que se torna a sua perdição. As bocas se encontram num misto de felicidade e culpa e os corpos mais uma vez se pertencem, a mente desistiu de lutar.
Não se sabe explicar quem venceu: o AMOR ou o DESEJO.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
“Fiz o que minha consciência mandou” As pessoas se fazem pelo o que as cercam, quem as cercam e em que momento as cerca. O indivíduo em sua realidade é uma fraude, uma ilusão em duas pernas que contempla a liberdade. Bombardeado desde sua primeira respiração pelo o que o cerca, julga saber por si o que é certo e errado guiado pelo que chama de consciência. Possui dentro de si o bem e mal e se acha livre pra tomar suas próprias decisões. O correto muda de sociedade em sociedade, suas concepções são o que o mundo implantou no nobre pensamento que chamas de seu. A tal individualidade é falsa, ilusória, somos presos e condicionados a parâmetros impostos por aqueles que não se teve o direito nem de conhecer. Ao clamar o “fiz o que achava certo” é realizador de vontades que talvez não sejam as suas. O bem e o mal, o certo e o errado, qual a relação? A consciência diz: o bem é o certo, cautela ao afirmar ouvir a voz do que sem pensar chamou de seu.
sorri mais uma vez pra mim...
me faz perder o ar como tantas vezes...
do jeito que você gosta...
do jeito que você sabe...
invade meus sonhos...
criando alucinações...
domina meus pensamentos...
da maneira que você deseja...
me faz cair...
dobrar os joelhos...
arfar o peito...
sempre que você mandar...
me faz de fraca...
viciada nos teus beijos...
implorando sua língua...
explorando todo lugar...
mata-me no fim...
de amor...
prazer...
sem se importar...
a mercê de todos seus desejos
e da sua gostosa forma estranha de amar.
"tens a boca possuidora do poder de me levar aos mais baixos céus, use com sabedoria"